4 Projetos que buscam aprofundar a discussão de raça na arquitetura

Longe de se esgotarem, as discussões de raça e gênero na arquitetura estão apenas começando a tomar fôlego, e uma de suas repercussões são os projetos e iniciativas que buscam mapear e identificar arquitetas e arquitetos negros que, embora numerosos e em prolífica atividade, são pouco citados - e publicados.

Ainda raras e absolutamente necessárias, essas iniciativas são um importante passo em direção a um reconhecimento mais justo e igualitário no campo da arquitetura. A seguir, apresentamos quatro projetos investigativos que pretendem dar nome e lançar luz sobre estes profissionais e seus trabalhos. 

Projeto Arquitetas Negras

Cortesia de Projeto Arquitetas Negras

O projeto Arquitetas Negras surgiu de uma inquietação pessoal e questionamento constante: onde estão as arquitetas negras, que raramente são vistas nas mostras de arquitetura e design, no mercado de trabalho, assim como nos espaços acadêmicos, publicações e registros históricos? Então, o projeto nasce da vontade de dar visibilidade e estimular a produção das arquitetas negras brasileiras. Desta forma, o grupo está mapeando a produção destas arquitetas e construindo uma plataforma tanto de pesquisa, quanto de contratação de serviços de arquitetura pelo brasil todo. A ideia é criar uma rede para difusão, circulação e fortalecimento da produção de arquitetas negras, contribuindo para mudanças significativas na área.

Coordenadoras: Gabriela de Matos e Bárbara Oliveira

Cortesia de Arquitetas e Arquitetos negros pelo mundo

Arquitetas e Arquitetos Negros pelo Mundo: mapeamento da presença negra no campo da arquitetura, urbanismo e planejamento urbano

O intuito do projeto é, a partir de uma perspectiva diaspórica, trazer para o debate da arquitetura, do urbanismo e do planejamento urbano, a presença e a produção de arquitetas e arquitetos negros de diferentes nacionalidades, localizados em distintas partes do mundo, construindo assim uma perspectiva transatlântica importante e necessária para a discussão sobre as práticas advindas desses campos. A investigação aborda dimensões como origem, local de formação, área de atuação, principais projetos, referências, publicações, dentre outras informações, com o objetivo de contribuir para a elaboração de um mapa inusual, e analisá-lo a partir de possíveis conexões, ressonâncias, ecos, dissonâncias e particularidades.

Nesse primeiro estágio, o projeto tem como foco apresentar 100 arquitetas e arquitetos negros e suas produções, como pontapé inicial para futuras leituras e análises desse arranjo. Pretende-se, também, através do compartilhamento desse mapeamento, possibilitar que estudante da área possam se utilizar desse site como fonte de pesquisa inicial, ampliando o universo de referências que em geral não abarca arquitetas e arquitetos negros, comumente invisibilizados tanto pela bibliografia acadêmica, quanto pelas publicações comerciais.

Em relação ao Brasil, a informação sobre etnia/raça de arquitetas e arquitetos urbanistas é um dado inexistente, mesmo junto aos Conselhos e Institutos que representam a classe. Assim, a equipe que constitui o projeto elaborou um formulário para contribuições voluntárias sobre arquitetas e arquitetos negros brasileiros. Quem desejar contribuir pode acessar o formulário aqui.

Cortesia de Arquitetas Invisíveis

Equipe:
Profª Gabriela Leandro Pereira - Coordenadora/ Profª Faculdade de Arquitetura - UFBA
Bianca Ariele Goes Soares - graduanda em Arquitetura e Urbanismo - UFBA
Deborah Sales Gomes - graduanda em Arquitetura e Urbanismo - UFBA
Isaque Santos Pinheiro - graduando em Arquitetura e Urbanismo - UFBA
Natália Maria Costa Santos - graduanda em Arquitetura e Urbanismo - UFBA
Paula Milena Lima - graduanda em Arquitetura e Urbanismo - UFBA

Arquitetas Invisíveis Negras

Cortesia de Mapeamento das Arquitetas Negras

O projeto feito pelo coletivo Arquitetas Invisíveis envolve um mapeamento de mulheres negras no mundo da arquitetura e do urbanismo, que estiveram e estão ativas, como protagonistas na profissão em âmbito internacional, num recorte primordial de raça e de gênero. Esse é só o primeiro passo no objetivo de erradicar preconceitos e desconstruir estereótipos, mudando a realidade de invisibilidade dessas profissionais (e das que estão por vir). O grupo se perguntava onde elas estavam se não via seus nomes nas disciplinas, nas revistas, nas publicações, nos concursos, em obras reconhecidas. Não era a falta delas, mas sim a invisibilidade desses nomes. Algumas já estavam no projeto das Arquitetas Invisíveis, mas eram poucas. A discussão sobre mulheres negras inseridas na profissão começou a criar demandas de reconhecimento, devido a essa baixa de representatividade nos repertórios de arquitetos, seja como referências de projeto ou de profissionais atuantes dentro do mercado. Importante reconhecer que a pesquisa foi feita por uma mulher negra, que tornou-se integrante do coletivo como coordenadora dessa pesquisa.

Coordenadora da pesquisa: Raquel Freire

Mapeamento das Arquitetas Negras

As pesquisadoras Andréia Moassab e a Joice Berth estão interessadas em aprofundar uma reflexão sobre o racismo, o machismo e o sexismo tanto no ensino quanto na atuação profissional em arquitetura e urbanismo. Recentemente, publicaram um texto na revista Arquitetas Invisíveis, n.2, resultado de entrevistas com onze arquitetas negras, brasileiras e africanas. As respostas mostraram um retrato dramático da dificuldade em ser mulher e negra nos cursos e depois, no exercício profissional. Nas escolas as barreiras vão desde não se sentir representada/contemplada - nenhuma arquiteta negra é exemplo durante as aulas - até os constrangimentos na exclusão em grupos de trabalho. No campo profissional o assédio é constante seja no canteiro de obras ou nos escritórios. Dado o universo qualificado, porém reduzido das entrevistas, as pesquisadoras abriram um formulário online para mapear as arquitetas e estudantes negras de arquitetura e suas trajetórias.

Em particular, interessa à dupla entender como as mulheres negras têm se colocado na área e as suas principais dificuldades e desafios. É importante destacar que os avanços proporcionados pelas cotas raciais, aumentaram o número de mulheres negras formadas. Contudo, como o mercado de trabalho as trata? Como a universidade as tratou? Quantas estão no mercado de trabalho, formal ou não, e têm consciência racial? As que estão no mercado, são formais ou informais? As que não estão, por que estão fora? Quais as situações de racismo velado ou escancarado que vivenciamos no cotidiano trabalhista, na universidade, na lida com clientes, etc. Como o machismo entra nesta equação de opressão?

O objetivo do mapeamento é montar um material que sirva de medição, instrumento de luta e avaliação das nuances e práticas de apagamento que atingem mulheres negras, em especial nesse campo de atuação, já que o racismo é um dos principais estruturadores das relações sociais. O preenchimento do formulário pode ser feito aqui.

Responsáveis pela pesquisa: Andreia Moassab e Joice Berth.
Responsável pelo material online: Bruno Oliveira

Sobre este autor
Cita: Equipe ArchDaily Brasil. "4 Projetos que buscam aprofundar a discussão de raça na arquitetura" 07 Jun 2018. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/895898/4-projetos-que-buscam-aprofundar-a-discussao-de-raca-na-arquitetura> ISSN 0719-8906

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